Confira Também Reportagens

Entrevista com Marluce – A Madrinha do GDM

Imagem do post Entrevista com Marluce – A Madrinha do GDM

A marcenaria sempre foi encarada como um “clube do Bolinha”, porém isso vem mudando e ainda que as marceneiras  sejam raras, cada vez mais as mulheres tem trocado a agulha e linhas por serra e madeira, como hobby e até mesmo profissão.

E para inaugurar a nossa pagina de entrevistados, nada melhor que alguém muito especial, a Madrinha do GDM (fórum Guia do Marceneiro), Marluce R Almeida, Analista de Sistemas e marceneira.

          Marluce, como foi que você descobriu essa paixão pela marcenaria?

Me lembro que na 3ª série com 8 anos tive aulas de artes, e numa dessas aulas tive de decorar uma colher de pau pra minha mãe. O trabalho era desenhar flores, pirografar e pintar as flores por dentro. Foi meu primeiro contato com o pirógrafo e com madeiras. Perturbei meu pai por muitos anos, até que ganhei um pirógrafo, devia ter uns 13 ou 14 anos. Mas não fiz muita coisa, pois não conseguia madeira pra fazer meus trabalhos e não sabia ainda onde procurar rsrsrsrs.

Anos se passaram e me casei com o Zé Luiz, não sei por que gostava de dar ferramentas pra ele (será que era pra mim? rsrsrsrs). Aniversários, natais, tudo era desculpa pra ferramentas. Tico-tico, cavalete/mesa de trabalho, grampos C… até uma serra circular manual eu dei pra ele. Com isso ele gostou e passou a bolar alguns pequenos projetos, fui ajudando e tomando gosto pela coisa. Eu não sabia, mas acho que já carregava o vírus da serragem desde cedo e acabei infectando o Zé Luiz também hahahahaha.

          De gostar de marcenaria até fazer um móvel é um longo caminho. Como foi que aprendeu? Fez cursos?

No início não tinha noção de nada, além de morar em apartamento, o que complica muito as coisas. Se não me engano nosso primeiro projeto foi um pufe que tinha espaço por dentro para colocar fitas de vídeo e a tampa além de permitir sentar, ao tirar a almofada tinha vidro por baixo e dava pra usar como bandeja. Ousado? Nem tanto, no fundo era um cubo de MDF com pés comprados prontos, espuma e tecido.

Tudo era muito devagar, cada passo que dávamos era difícil começar o próximo, tínhamos muitas dúvidas, por exemplo, como esconder os grampos que prendiam o tecido? Aliás a escolha por forrar com tecido e espuma foi principalmente porque não sabíamos como fazer o cubo e não mostrar os parafusos ou como fazer acabamento hahahahahaha

Usamos chapas de MDF fino por dentro do cubo para esconder os grampos, tivemos dificuldade para forrar a almofada de cima, pois não sei costurar nem tinha máquina.

Mesmo com as dificuldades fomos pegando gosto pela coisa, tínhamos uma estante com laterais onduladas e Zé Luiz teve a idéia de fazer um porta CD com laterais onduladas também, esse projeto mereceu duas versões. A primeira com mdf e chapa fina de compensado no fundo e nas divisórias, anos depois a segunda versão com laterais de ipê, meio de pinus, divisórias de acrílico e sem o fundo

Entre a primeira versão e outra do porta CD descobrimos o fórum do Guia do Marceneiro (GDM) e descobrimos outro mundo de possibilidades, nossas dúvidas deram lugar a novas experiências e aí sim tivemos noção de que era possível nos aventurarmos na marcenaria.

Nos empolgamos e fizemos dois cursos de marcenaria no Centro de Artes Calouste Gulbekian (Praça XI – RJ), o básico e o avançado.

A partir daí abraçamos o hobby da marcenaria, desde comprar mais e mais ferramentas, até incluirmos no projeto da nossa casa em construção uma oficina dedicada a isso.

          Dentro do GDM todos te respeitam não apenas como mulher, mas como marceneira e.no dia-a-dia você já foi desacreditada? 

Kkkk Não sou tão boa marceneira quanto vocês pensam J

Já tive vários momentos de preconceito por ser mulher e me aventurar na marcenaria, desde vendedores que não querem me atender nas lojas de marcenaria, até pessoas que nem me conhecem discutindo que o que eu faço é artesanato e não marcenaria (como se fazer artesanato fosse algo ruim)

Tanto que na minha assinatura do GDM conto o caso do telhadista que ficou todo empolgado quando viu minha BT1800 (serra de bancada) na casa do meu pai e quando meu pai negou que era dele e explicou que a BT era minha, ele deu de ombros e disse  – “Humpf! Na primeira “ferpa” ela desiste”

O engraçado é que anos depois ele que fez o telhado da nossa marcenaria, e durante o período que trabalhou aqui até pegar algumas dicas comigo ele pegou kkkkkkk

 Sei que o maridão Zé Luiz  é companheiro também de serragem. Conte-nos um pouco sobre isso para nós.

Tenho muita sorte de ter do meu lado alguém que compartilha dos mesmos gostos que eu. Desde o início Zé Luiz pegou gosto pela marcenaria e me incentivou a não desistir. Ele me acompanha nesse hobby até hoje, as vezes juntos, as vezes cada um com seu projeto.

Ele me complementa na marcenaria, pois algumas tarefas eu não sou muito boa, como regular ferramentas, e outras eu não gosto muito como lixar. Com a ajuda dele até as etapas mais chatas se tornam mais agradáveis J

Ultimamente ele não tem tido muito tempo para marcenaria, mas sempre que pode me ajuda. Principalmente com as partes que não consigo sozinha, como cortar chapas grandes. Mas nunca deixou de me incentivar.

De todos os trabalhos feitosem sua oficina, qual lhe deu mais satisfação? Por quê?

Difícil escolher, pois o que me incentiva a terminar um trabalho é a satisfação de ver ele pronto rsrsrsrs. Mas o que eu mais gostei de ter feito foi a mesa de centro quebra-cabeça, não só por finalmente conseguir terminar um projeto que sonhava (levei 1 ano pra terminar), mas também porque até hoje recebo retorno de várias pessoas elogiando e até pedindo que eu faça mais mesas dessa.

 

 

Além da marcenaria possui outros hobbys?

Adoro trabalhos manuais, na verdade a filosofia do “faça você mesmo” me atrai muito. Não só pela economia mas também por permitir colocar no nosso trabalho um pouco da nossa personalidade. Já me aventurei em várias áreas. Ultimamente descobri a técnica do mosaico e me apaixonei, pretendo no futuro juntar essas duas paixões. Já tenho em mente uns móveis diferentes juntando madeira e pastilhas de vidro, vamos ver o que vai dar J

 Muitos hobbystas sonham em abandonar o emprego e viver do que gosta, isso faz parte de seus planos?

Acho difícil conseguir renda só na marcenaria, nem sei se teria capacidade pra isso. Mas gostaria de tentar comercializar minha mesa quebra-cabeça, pediram tanto que acabei gostando da idéia, adoraria ver uma peça feita por mim na casa de alguém.

 

Pra encerrar

            Se tivesse que escolher ficar apenas com 3 ferramentas, quais seriam? vale manual e elétrica

Difícil essa hein? Rsrsrsrs

Minhas serras japonesas, minha serra de fita Makita LB1200F e meu kit de parafusadeira LCT204 Makita

Qual a maquina ou ferramenta dos sonhos?

Gostaria muito de ter uma Serra de meia-esquadria, mas o que eu sonho mesmo é ter um Woodrat


Adilson Pinheiro

Aos três anos ganhei meu primeiro serrote e desde então sou apaixonado por ferramentas e produção. Designer autodidata, vidreiro e artesão, acima de tudo apaixonado por ferramentas e o que com elas podemos fazer. Atualmente compartilho o que aprendi em 37 anos desde o serrotinho em meu blog e canal no Youtube.

Comentários